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Que tipo de pessoa queremos formar na Escola Dominical?

A Escola Dominical tem sido o foco das discussões sobre a Educação Cristã. Alvo de muitas críticas, também. Mas não só de críticas. Há muito debate em torno dela. Hoje se debate quase todos os aspectos da Escola Dominical.

Uma rápida olhada na internet revela que a Escola Dominical está presente na agenda diária da Igreja. Pastores, Educadores Cristãos, Professores, Superintendentes e todos os interessados em Educação Cristã têm na Escola Dominical um ponto em comum de preocupação.

Não apenas em blogs, comunidades das redes sociais, websites, listas de discussão eletrônicas etc, se pode encontrar pessoas que estão preocupadas com a Escola Dominical. As livrarias evangélicas têm oferecido material de vários autores sobre o tema da Educação Cristã.

A Escola Dominical está em discussão. Discute-se o seu papel na missão da Igreja. Discute-se a metodologia utilizada nas aulas, os recursos áudios-visuais e o emprego das novas tecnologias. Há discussões sobre o preparo adequado de professores. Há muitos aspectos da Escola Dominical em discussão.

Destaco as questões que julgo serem as principais na atualidade:

1. Quanto aos Professores

Há uma legítima preocupação com a qualificação dos Professores da Escola Dominical. As discussões alertam para o problema da má qualificação dos docentes e para a falta de atualização dos mesmos.

2. Quanto aos Métodos de Ensino

Uma variedade de métodos no processo de ensino-aprendizagem é apresentada como alternativas viáveis para que se possam tornar as aulas mais interessantes.

3. Quanto aos Insumos Didáticos

As discussões atuais apontam como problema a falta de material didático ou a falta de adequação dos materiais disponíveis às realidades regionais e locais.

4. Quanto aos Currículos

O currículo da Escola Dominical, ou a falta dele, é outro item na pauta de discussões sobre a temática educacional na Igreja.

5. Quanto à Estrutura Física

Outro fator apontado como responsável pelo insucesso da Escola Dominical é a estrutura física onde ela funciona.

Posso acrescentar outros elementos que estão dentro das preocupações de todos nós educadores cristãos. Estão em questão, também, as novas tecnologias, o planejamento, os dias e horários de funcionamento, os objetivos do ensino, o papel da Escola Dominical etc. Contudo, não vou me alongar alistando todas as questões do debate atual.

Quero destacar uma ausência mais que significativa. Uma ausência determinante para repensar a Escola Dominical. Um item que praticamente não aparece em nenhuma discussão: o Perfil do Egresso!

O Perfil do Egresso

Perfil do Egresso é a expressão utilizada na educação para designar a pessoa formada no final do processo educativo. Perfil do Egresso é sinônimo de: “que tipo de pessoa queremos formar?”

Penso que no debate atual sobre a Escola Dominical falta justamente fazer esta pergunta: Que tipo de pessoa nós queremos formar na Escola Dominical?

A resposta é óbvia? Parece que não.

Pergunto a você: Que tipo de pessoa sai formado da Escola Dominical? Quais suas competências? Quais suas habilidades? Qual sua visão de mundo? Qual sua compreensão de Deus?

Receio que a falta de estabelecer um Perfil do Egresso esteja na base da crise da Escola Dominical.

O que pode nos ensinar Robert Raikes?

Creio que Robert Raikes pode nos ajudar no debate atual sobre a Escola Dominical, afinal foi ele quem a criou. Ou pelo menos, foi ele quem obteve mais sucesso com a ideia. Vamos ouvir sua história.

1. O Problema – A situação era consequência, não causa

Certo domingo de 1780, Robert Raikes encontrou, numa área pobre de Gloucester, um grupo de crianças maltrapilhas brincando na rua. Enquanto ele censurava severamente o grupo de delinquentes juvenis, uma senhora que ele acompanhava a casa após o culto interrompeu-o para explicar-lhe que estes jovens violentos e impetuosos existiam porque, quando crianças foram ignorantes, pobres e sem instrução.

“Porque, então, eles não vão à escola aprender?”, perguntou Raikes.

“Por que não podem”, replicou ela.

“Mas que disparate!”, disse Raikes. “Há tantas escolas particulares que oferecem instrução livre e gratuita. Porque é que estes pequenos pagãos não vão para uma delas?”.

“Porque”, acrescentou ela, “eles trabalham em fábricas em regime de 12 horas por dia, durante 06 dias por semana. O Senhor Pode dar-me uma sugestão onde é que eles poderão ir estudar? Só os jovens de classe média, que não precisam trabalhar, é que podem frequentar essas suas escolas”.

2. A Solução – Resposta à demanda social

Raikes percebeu que essas crianças estavam a um passo do mundo do crime e ele chegou a ver o destino de muitas delas, ao visitar as prisões de Gloucester. Então decidiu: melhor prevenir do que remediar.

“Ora se eles trabalham durante a semana toda vamos ensiná-los no domingo”.

Então, Raikes contratou uma equipe de quatro mulheres no bairro para lecionar em cozinhas transformadas em salas de aulas, recebendo um xelim e seis pence, cada uma.

As aulas começavam às 10 horas da manhã e iam até às duas da tarde, com lições de matemática, história e inglês, com um intervalo de uma hora para o almoço.

Assim, a Escola Dominical nasceu operando de forma independente das igrejas, alfabetizando e ensinando Bíblia às crianças carentes.

3. O Perfil do Egresso – Educação para a vida

Seu objetivo principal não era ensinar a Bíblia, mas alfabetizar os alunos e ministrar aulas de religião com o propósito de reformar a sociedade. O objetivo último era modificar lhes o caráter usando os ensinamentos bíblicos.

4. Os Resultados – Transformação de vidas e da sociedade

Depois de um período experimental, Raikes divulgou suas ideias e os resultados em seu jornal, no dia 3 de novembro de 1783. Esta experiência foi transcrita em outros jornais. Líderes religiosos tomaram conhecimento do movimento que se espalhava.

Em 1784 eram 250 mil alunos matriculados. A taxa de criminalidade de Gloucester caiu, com o advento das escolas dominicais de Raikes, de forma que em 1792 não houve um só caso julgado pela comarca de Gloucester.

Impressionado pelas escolas dominicais fundadas por Raikes, que eram responsáveis pela redução do índice de criminalidade de Gloucester, William Fox, diácono da Igreja Batista, o chamou para formar uma associação para promoção e criação de escolas dominicais (Sunday School Society of Great Britain - Sociedade da Escola Dominical da Grã-Bretanha). Essa sociedade foi ajudada por muitos filantropos, podendo abrir cerca de trezentas escolas dominicais, suprindo-as com livros, material didático e professores. Esta sociedade publicou, na gráfica de Raikes, o Sunday School Companion, livro com versículos bíblicos para leitura.

5. A Oposição – Resistência às mudanças

Houve, no entanto, uma forte oposição ao movimento de Raikes, que era considerado por alguns líderes religiosos (por incrível que possa parecer) como um movimento diabólico, porque funcionava à parte das Igrejas e era dirigido por leigos, isto é, pessoas que não tinham formação pedagógica. O Arcebispo de Canterbury reuniu os bispos para considerar o que deveria ser feito para exterminar o movimento. Chegou-se a pedir que o Parlamento, em 1800, aprovasse um decreto para proibir o funcionamento de escolas dominicais. Achavam que este movimento levaria à desunião da Igreja e que profanava “o dia do Senhor”.

Contudo, a oposição se dissipou e o movimento das escolas dominicais prosperou.

E aqui estamos nós, graças ao Senhor e a pessoas como Raikes.