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O Papel da Família na Educação Cristã

Qual o papel da família na Educação Cristã?

Esta resposta é simples e quase automática, mas praticá-la ... (Tg 1:22). Talvez eu devesse responder esta pergunta somente daqui uns 20 anos, isto é, depois de ter educado os filhos que ainda nem tenho. Meu desejo então não é de responder com a autoridade de quem “já passou por isto” (II Co 1:3-4) mas com a autoridade da Palavra de Deus e do aprendizado recebido na educação que recebi tendo o privilégio de crescer num lar cristão, bem como através da leitura de muitos livros, participação em congressos mas especialmente no preparo e vivência do ministério com adolescentes e jovens.

Entre os muitos textos clássicos de educação cristã um me chama atenção: o Salmo 78. Além de ter sido escrito por uma família este salmo, que conta de modo poético uma parte da história do povo de Israel, preocupa-se com a transmissão aos filhos (versículos 1 a 8), e consequentemente às próximas gerações, “o que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram” (v.3). e o resultado desse processo é que “eles porão a sua confiança em Deus, não esquecerão os seus feitos e obedecerão aos seus mandamentos”(v.7).

Não precisamos de muito esforço para perceber que em algum momento na estrada da história nós pegamos caminhos e atalhos errados ou pelo menos perigosos e nos perdemos. A própria sociedade está buscando respostas para a crise familiar e educacional. Ter a resposta nós temos: mas será que a praticamos e confiamos nela?

O evangelista Moddy não permitia que crianças de famílias cristãs frequentassem a escola dominical. E a sua justificativa era simples: elas deveriam ser ensinadas por seus pais. Se ele fosse pastor ou superintendente de Escola Dominical atualmente ele manteria sua posição?

Antes de responder sobre o papel da família é importante refletirmos sobre o Papel da Igreja.

Permitam-me algumas perguntas de verificação (ou para ser mais globalizado “checklist”):

a) Em nossas igrejas treinamos/preparamos mais professores ou pais?

b) Qual a participação (direta e indireta) dos pais na educação realizada através da igreja?

c) Qual a importância dos ministérios e/ou atividades da igreja que tem participação de crianças?

d) Qual o compromisso dos pais e da igreja no batismo infantil?

e) Como a igreja acompanha os pais na educação de seus filhos?

Acho que já suficiente para reforçar a percepção de que a igreja talvez faça o que não é sua tarefa e não faz o que deveria. Por isso quando pensamos em ensinar os pais sobre educação cristã devemos pensar também em ensinar à igreja, especialmente sua liderança, sobre suas responsabilidades neste processo de ensino/aprendizagem, e ajudá-la a enxergar suas limitações e omissões.

O texto de João 4:49-50 nos mostra um pai que procura Jesus em favor de seu filho. Os pais irão procurar por ajuda. Este texto pode nos indicar um caminho saudável para definirmos papéis na educação cristã de nossos filhos, e propositalmente não falo de crianças, pois educar adolescentes e jovens são desafios tão grandes e relevantes quanto educar os filhos ainda pequenos. Certa vez, durante um congresso de educação de filhos, perguntaram ao preletor cujos filhos já eram jovens: “Qual o momento mais difícil da educação cristã” ao que ele respondeu: - O momento chamado hoje!

A igreja deveria investir muito mais nos pais que nas crianças. E o investimento que fizer nas crianças fazê-lo como cooperação com os pais. Hoje afirmo que a educação de filhos solteiros em idade adulta é um dos maiores desafios para os pais. Claro que a educação infantil é a base e não deve ser negligenciada mas pergunto: quantos livros evangélicos há sobre educação de crianças e sobre educação de filhos adultos? E ainda: quantos líderes na igreja tiveram a experiência de educar filhos crianças e filhos solteiros em idade adulta(isto é acima dos 25 anos)? E além disto quantos pais tiveram a experiência pessoal de, solteiros depois dos 25 anos, ainda morar na casa de seus pais e estar sobre sua responsabilidade?

Deixo pendurado aqui num varal a discussão: a igreja realmente valoriza a família?

Mas esta é apenas uma breve reflexão, nosso objetivo é focalizar o papel da família da educação cristã. Comecemos refletindo o que é a família.

O termo “família” vem do latim “famulus” e representava a ligação entre um senhor e seus dependentes e servos. Outros conceitos são “aparentados que vivem na mesma casa; do mesmo sangue; casal unido pelo matrimônio e seus filhos”. Se fossemos ampliar a discussão poderíamos incluir os conceitos de familiar nuclear(pais e filhos) e expandida (avós, tios, etc.), bem como observar as influências culturais nos padrões familiares, principalmente no Brasil com toda a sua miscelânea. Outra linha de aprofundamento seria o de família funcional e disfuncional, ponto este que levantaria questões relevantes tanto socialmente(como o aumento de divórcios) quanto eclesiasticamente (como nos posicionamos diante de e nos preparamos para estas mudanças no modelo familiar). Falando em funções da família poderíamos destacar: a reprodução, a socialização, a formação da identidade religiosa, social e econômica.

Muitos dos equívocos e desajustes que temos hoje nas famílias e na igreja sobre educação cristã seriam resolvidos com uma melhor compreensão dos tipos de educação. Sem tratar de linha pedagógicas podemos no mínimo separar a educação em formal e informal. Esta separação deveria ser somente quanto à forma, e não ao valor. Porém não é o que vemos. Por incrível que pareça nós supra valorizamos a educação formal, que acontece nas salas e bancos da igreja, através de currículos e materiais sistematizados (e até mesmo “idolatrados”) e menosprezamos a educação informal que acontece nos trajetos casa-igreja, nos corredores da igreja e principalmente do cotidiano da vida familiar. Será que não valorizamos demais nossas salas de aula e cultos infantis? Compare o tempo envolvidos nestas atividades com o restante do domingo e da semana.

Quando repensamos a educação cristã como uma mistura muito interessante de ações formais e informais descobrimos os valores que estão na base de Deuteronômio 6, um texto clássico sobre educação, mas que somente pode ser vivenciado quando restauramos aos pais a responsabilidade do que podemos chamar de “DISCIPULADO DE FILHOS”.

Gosto muito da frase de Ginott:

“A RESPONSABILIDADE DOS PAIS NÃO É A FELICIDADE DE SEUS FILHOS, E SIM SEU CARÁTER”

Para devolver aos pais a responsabilidade da educação cristã de seus filhos tendo a cooperação da comunidade de fé chamada Igreja, é preciso que os ensinemos e animemos a desenvolver um estilo de vida cristã onde o centro não é o templo ou o “prédio de educação cristã” mas a própria vida.

Uma pergunta muito importante para dimensionarmos o desafio do discipulado de filhos, que como possui um roteiro sistemático chamada “vida” e uma linha teológica chamado “amor” é: QUEM IRÁ PREPARÁ-LOS PARA SER DIFERENTE DAS OUTRAS CRIANÇAS?

Alguém já afirmou que “O EXEMPLO É O PRIMEIRO IDIOMA QUE SEU FILHO APRENDE”. Para dimensionarmos o poder do exemplo é só prestar atenção nas paixões das crianças, elas reproduzem duas fontes principais: seus pais ou seu meio cultural. Os filhos serão influenciados pelas paixões de seus pais, sejam elas benéficas ou não. Neste ponto vale lembrar a reflexão sobre o salmo 127: PARA ONDE APONTAMOS NOSSOS FILHOS?

Permitam-me contar uma breve ilustração sobre isto:

“Um dia o pai estava sentado assistindo ao jornal quando o filho, com uma Bíblia na mão, pergunta:

- Pai, este é o livro de Deus?

Prontamente o pai respondeu:

- Sim, meu filho a Bíblia é o livro de Deus.

O garoto então perguntou :

- Então por que a gente não devolve pra ele? Nós não usamos mesmo!

Neste ponto gostaria de incluir a reflexão sobre aquele que talvez seja o texto mais conhecido sobre educação cristã - PV 22:6. Pergunto: qual o ambiente/contexto e os sujeitos deste versículo: será que são os professores da escola dominical nas salas de aulas da Igreja? Se não são o que estamos fazendo por aqueles que são?

Como gosto muito de frases, preste atenção nesta:

“OS FILHOS TÊM MAIS NECESSIDADE DE MODELOS QUE DE CRÍTICOS” (J. JOUBERT)

Na teoria concordamos com ela mas como tem sido nossa prática em relação às crianças pelo menos no ambiente do templo e nos momentos antes/durante/depois do culto. Você deve estar percebendo que as discussões sobre culto infantil não são assim tão simples como você imagina e se realmente valorizamos nossas crianças e colaboramos com os pais na educação cristã delas deveríamos no mínimo fazer uma revisão de nossas liturgias e dos valores bíblicos e históricos que as norteiam.

Outro assunto relevante é a EDUCAÇÃO SEXUAL. Será que realmente consideramos este assunto um tema de educação cristã e que em nada diferencia de outros princípios da vida cristã? Será que os pais estão preparados para assumir e exercer seu papel como responsáveis também pela educação sexual de seus filhos? Não se esqueça que a grande maioria das dificuldades que os adolescentes e jovens enfrentam com sua sexualidade são de origem afetivo-emocional relacionadas com seus pais! É por isso que Içami Tiba, um dos ícones da reflexão sobre educação no Brasil, corretamente afirma: “A FAMÍLIA É UM SEGUNDO ÚTERO PARA UM 2º PARTO”. Se tem alguma dúvida sobe isto converse com qualquer conselheiro de jovens ou pastor sobre o que ouvem em seus aconselhamentos!

Para finalizar este breve artigo gostaria de relembrar as orientações de um pastor do início do século XX sobre o culto. O culto é praticado de três formas que se influenciam mutuamente: pessoal (a vida devocional - lembra-se do cântico: “leia a bíblia e faça oração”?); familiar e comunitária. O resgate do valor e da prática do culto familiar ou doméstico influenciaria profundamente o desenvolvimento espiritual de nossos filhos e produziria uma transformação significativa em nossos cultos públicos. Fica aqui o desafio da prática do culto familiar aos pais que desejam cumprir com zelo a responsabilidade da educação cristã. Lembrando que estes breves mas preciosos momentos cumprem um dos princípios neotestamentários da vida cristã: a mutualidade (“uns aos outros”) onde os filhos não serão um mero auditório dos pais, como receptores passivos, mas sujeitos ativos, instrumentos de Deus na vida dos outros membros da família.

Minha oração e desejo é que experimentemos a graça de Deus, a partir de nossos lares.